domingo, 3 de abril de 2016

Escala na Madeira (I)

Tive a grande sorte de visitar a Madeira numa escala de cruzeiro. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe de tudo.



Não tínhamos muito tempo e chovia, assim decidimos alugar um táxi que nos levasse a ter o primeiro contacto com as múltiplas belezas da ilha.

E começámos pelo Jardim Botânico.






Não é de estranhar que uma ilha que se chame Madeira (chamada assim pela quantidade de árvores que possuía, matéria prima para fabricar barcos, casa e outras coisas necessárias para as viagens das conquistas portuguesas) possa albergar um Jardim Botânico de uma exuberância tão impressionante.






Por momentos, em alguns dos seus sítios, sentimo-nos imersos nos jardins coloniais do Brasil, com espécies tropicais de grande porte que somente poderiam dar-se em condições muito especiais e que abrigam construções como o pequeno museu de animais dissecados pertencentes à família Reid, proprietária dos terrenos onde se assenta o jardim.




Não devemos obviar a visita à casa, já que la dentro, o ambiente nos transporta imediatamente às casas coloniais que foram construídas na América, África e Ásia pelos grandes proprietários que se seguiram os conquistadores.
O ano de 1960 foi fundamental para a criação do jardim, uma vez que foi o momento de saída á luz do projecto que havia tempo rondava a mente dos membros da família Reid. Dotar o sitio com um fabuloso local de espairecimento para os madeirenses e que ao mesmo tempo pudesse gerar algum ganho.






Assim, na sua quinta, que datava de 1881, criaram um jardim faustoso de 80.000 m2 que se converteu numa delicada mostra de flora autóctone europeia, da ilha e das colónias portuguesas.








Jardins de estilo inglês e francês, fontes, pequenas cascatas, uma mostra das famosas e simbólicas casinhas de Santana, inevitáveis e queridas quando pensamos na Madeira rural, um pequeno mostruário de papagaios e aves exóticas, caminhos e lugares mágicos, e na parte mais alta um pequeno restaurante para recuperar forças e desfrutar das maravilhosas vistas sobre o Funchal.






E tudo isto, construído da única maneira permitida pela orografia da ilha, em forma de grandes socalcos, terraços, unidas por veredas ou caminhos mais transitáveis, mesmo para pessoas com incapacidade física.
Sem dúvida um dos pontos de visita obrigatória quando nos hospedemos na Madeira, ou quando, como eu, a visitemos numa escala de cruzeiro.
































Pico dos Barcelos

Uma das estradas que sai do Funchal, nos conduz até ao interior da ilha de Madeira. É absolutamente obrigatório e necessário pararmos neste ponto panorâmico para desfrutar de uma das melhores vistas da ilha.






Depois de deixar o carro num pequeno parque de estacionamento, (no nosso caso o táxi, que por 20 Euros nos ofereceu uma visão bastante completa do norte da Madeira) subimos até ao miradouro por um descampado pavimentado em pedra, onde haviam colocado uns postos de souvenirs/lembranças, que tinham desde artesanato, camisolas com desenhos vários a vinhos, doces e licores. Passando essa zona, chegamos ao miradouro propriamente dito, guardado por uma cruz de pedra com a iscrição: Laudeter lesus Christus – a forma correcta deveria ser Laudetur lesus Christus – que quer dizer, Glorioso seja Jesus Cristo.









Esta cruz segue o antigo costume de ser colocada nos pontos mais altos dos locais, como um calvário onde se possa orar ao chegar ao cimo.






De seguida, e passada a cruz, deparamo-nos com uma zona de arvoredos, onde se encontra um varandim que práticamente nos dá uma visão de quase 360 graus sobre a espectacular costa e montanhas da Madeira.


Desde os seus 355 metros de altura, este miradouro construído em 1950, permite-nos fazer uma ideia da situação estratégica que teve a ilha para todos aqueles que cruzavam o oceano até à América e no seu regresso, bem assim como o atractivo que possui para os visitantes que vem passar largas temporadas devido ao seu clima benéfico, ou para quem vem desfrutar de umas poucas horas de escala quando se chega em cruzeiro.


Câmara de Lobos

Quem tenha tido a sorte de visitar Madeira antes ou depois de ter estado em Tenerife o em La Palma, encontrará semelhanças e parecenças a cada momento, não em vão as três ilhas pertencem à Macronésia, com uma geologia e orografia praticamente idênticas. Ainda assim, estando no meio do mar e distantes umas das outras também não diferem muito nos costumes.
E isso vê-se por exemplo aqui em Câmara de Lobos, um lugar que poderia pertencer perfeitamente ao norte das Ilhas Canárias, tanto por o agreste da paisagem montanhosa que a rodeia, como pela forma das escarpas que a protegem dos golpes de mar.







A disposição das casas, que parecem sair do mar também reforça a ideia das parecenças.
Inclusivamente no nome, (os lobos marinhos). Também é comum em algumas das Ilhas Canárias, encontrar a presença de animais que lhes deram nome.

A presença inglesa foi determinante para a economia dos dois arquipélagos, assim, como o amor que os britânicos lhes professavam. Basta ver a serie de quadros que W. Churchill realizou, inspirado na beleza agreste de Câmara de Lobos.
Nada mais que deixar-se levar pela incrível paisagem que rodeia uma das primeiras cidades que se fundaram na Madeira para ser capaz de pintar, de compor e de fotografar os seus maravilhosos sítios.

Câmara de Lobos é o local onde se invento a Poncha, bebida que é composta por sumo de limão, mel e aguardente, podendo provar-se em inúmeras tabernas locais e em toda a ilha de uma maneira geral.

Mirador de Cabo Girão – Rancho
Já experimentaram a adrenalina que proporciona uma atracção de feira-popular das boas com uma vista impressionante do mar e uns penhascos que parecem cortados à faca?
Se não o experimentaram, seguramente que quando visitem a Madeira não poderão resistir a esta estranha sensação de queda a pico, mas controlada.






Certamente não é uma experiência apta para cardíacos, já que o desnível de 580 metros realmente impacta. No entanto e desde 2003 é um alívio para os camponeses, que se viam ”gregos” com a altura, cada vez que tinham de fazer chegar ao cimo o fruto das suas colheitas.
Desde aqui, temos umas vistas impressionantes do infinito oceano, e na verdade faz-nos pensar e admirar a proeza dos marinheiros portugueses ao cruzar os mares em busca de…quem sabe… que países e que riquezas.






O corte das escarpas é realmente dramático, à faca, a machado, com serra… impressionante.
Existem duas cabines com seis lugares sentados que ligam na vertical, Rancho e as Fajãs do Cabo Girão, um lugar formado principalmente de campos de cultivo e uma bonita praia que pode ver-se desde o miradouro de Cabo Girão, e que adopta este nome desde a primeira vez que se circunavegou a ilha. Aqui terá sido o ponto onde voltearam as naus.










Lá bem no cimo, um bar restaurante com um estupendo café, forte e curto, e a promessa de uma comida muito apetecível.
E com isto, demos por finalizado o pequeno táxi-tour e decidimos explorar o Funchal. Nesse dia havia um mercado de produtos da ilha.
Passeando no porto, encontrámos o restaurante Vagrant


Help, I need somebody, Help, not just anybody, Help, you know I need someone, help!
Isto seguramente cantaria o Vagrant se pudesse falar, ou melhor gritar, já que a gritos pede Ajuda!






É muito estranho que com o tanto que se escreveu sobre os Beatles, sobre a sua carreira, os seus membros, as suas viagens, a sua vida, com o que se pagou pelos seus pertences, coisas até compradas ilegalmente, ou em conhecidas casas de penhor e de leilão, ainda se encontre pelo mundo pedaços tão importantes do grupo e que mesmo sendo conhecidos, não despertem o interesse de milionários o simplesmente filantropos com um pouco de iniciativa.
É o que ocorre com o Iate Vagrant, encalhado eternamente no porto do Funchal, Madeira, depois de ter sulcado os mares do mundo, da música e da história, já que pertenceu ao grupo de Liverpool durante algum tempo.




A sua história remonta a 1941, quando foi mandado construir pelo multimilionário Vanderbilt no Maine, Estados Unidos, para que fosse um dos iates mais luxuosos do mundo, e realmente foi.
Depois de muitas peripécias e de “miles” de milhas, sofreu um acidente na ilha Gran Canária, onde ficou retido, até que foi comprado por João Bartolomeu de Faria, madeirense, que viu nele uma oportunidade de negócio.


Acondicionou-se como restaurante, função que segue desempenhando, rodeado de um aparatoso cenário, de gosto duvidoso, que tenta simular o mar, mas que não pode evitar que a incúria e abandono se veja reflectido nele… nem o tempo.
Em teoria é um restaurante de peixe fresco e marisco, de preços elevados, mas não consegui averiguar se estava encerrado para reforma, se estaria fora de temporada ou simplesmente abandonado.
O que vi, com muita pena, foi um pedaço de história ali encalhado em terra, sem que alguém se importasse com ele, alguns turistas o observavam com alguma curiosidade ao passar ao seu lado… e o Vagrant, o vagabundo, gritava Ajuda!

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